“Serendipidade” é o ato de descobrir coisas interessantes e agradáveis por mero acaso — inesperadamente, sem previsão —, uma casualidade feliz. “Serendipidade” também é o nome do nono álbum do ETs na Terra, e uma homenagem ao processo de composição que acontece em todo o projeto. Tocar notas “erradas” pode não parecer ideal num primeiro momento, mas, se soubermos aproveitar, elas podem nos mostrar o caminho para uma melodia ainda mais rica, divertida e bonita (e o mesmo vale para a vida).
O álbum inicia com a música “Sons Suaves de Outro Planeta” (faixa 1). Usando duplos sentidos e analogias entre o universo e a música, essa faixa fala sobre estarmos sempre atentos aos detalhes que podem nos fazer ter uma nova visão das coisas. É também um convite para ouvir as músicas com fones de ouvido, para apreciar melhor todos os sons suaves e barulhinhos intergaláticos presentes neste projeto. Tudo tem um propósito, nada é em vão.
“Oceano Marciano” (faixa 2) é uma lembrança da época em que Marte tinha água em sua superfície. O ritmo constante e focado foi pensado para acompanhar grandes jornadas, seja pelo espaço ou por outros planetas.
Em “Carteira de Astronauta” (faixa 3), a letra tenta ser divertida para descontrair, mas a ideia é simples: podemos ser e fazer tudo o que quisermos; tudo se aprende, basta mantermos a coragem e o espírito aventureiro. O ritmo e alguns timbres foram inspirados na música “My My Metrocard”, da banda Le Tigre.
“Krautchelbel” (faixa 4) apresenta uma forma diferente de usar a progressão harmônica mais famosa e utilizada na história da música, “Canon in D”, de Johann Pachelbel. Os acordes são alternados sem pressa; a sonoridade, inspirada no krautrock, também representa um pouco da confusão que às vezes mora em nossas cabeças.
“Planeta em Palavras” (faixa 5) é uma forma sucinta de contar a história do planeta Terra usando apenas palavras soltas sobre o passado, o presente e o futuro, seja ele imaginário ou preditivo.
“Ponto Nemo” (faixa 6) é sobre o local mais distante de qualquer continente ou ilha no planeta Terra. Esse lugar é tão distante da terra firme que os seres humanos mais próximos dali são, em geral, os astronautas presentes na Estação Espacial Internacional. Essa música, através de poucos instrumentos, é uma forma de representar toda essa inacessibilidade, com o baixo sendo o peso da água e os demais instrumentos transmitindo a paz e a harmonia daquele lugar.
“O Meu Canto Não é Reto” (faixa 7) nasceu da ideia de uma base instrumental com diálogos improvisados, falar (e reclamar) consigo mesmo, aceitando que as conversas às vezes dão voltas e voltas. Mas, se estiver divertido, qual é a pressa?
Depois, conforme prometido, vem a versão instrumental de “Não Ofenda os Animais”
(faixa 8), música do álbum “A Fauna, a Flora e os E.T.s”, lançado em 2023. Bem divertida!
Para finalizar, “Latido de Longe” (faixa 9), cuja ideia inicial surgiu apenas pela
sonoridade do nome, mas acabou se tornando um bom exemplo dos desafios de se fazer
música em um quarto improvisado, onde muitas vezes é preciso contar com a sorte para que
os barulhos da cidade não estraguem a gravação.
Todas as músicas foram feitas e gravadas em casa entre 2024 e 2025, com pouco
recurso mas com muita dedicação. Que as sonoridades estranhas e confusas desse álbum
possam, de alguma forma, fazê-los lembrar de que a diversão precisa estar presente em
nossas vidas e que é sempre possível fazer dos limões, limonada.